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DOCE CENÁRIO

Bahia tem potencial para liderar produção de mel; Atividade garante a sobrevivência de mais de 20 mil apicultores

A VeraceL apoia, há 18 anos, a cadeia produtiva do mel em seu território de atuação por meio de parcerias com associações de apicultores locais. Em 2022, 131 famílias foram beneficiadas, e 31 mil quilos de mel foram produzidos na região

Por: A Tarde
Publicado em 18/12/2023 10:01
Atualização:18/12/2023 10:04

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A produção de mel em terras baianas, que garante a sobrevivência de mais de 20 mil apicultores da agricultura familiar, vem batendo recordes e chegou a cinco mil toneladas por ano. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Bahia é o quarto maior estado produtor de mel do Brasil e o que tem o maior crescimento em números absolutos. Por ano, são gerados R$ 64,8 milhões para os meliponicultores e apicultores baianos, com predominância da agricultura familiar.

O mel tem transformado a realidade em diversas regiões do estado, proporcionando fonte de renda às famílias e impulsionando o desenvolvimento. De acordo com o produtor de mel e diretor-presidente da Cooperativa Agropecuária dos Agricultores e Apicultores do Médio São Francisco (Coopamesf), Rafael Farias, a produção de mel tem realizado os sonhos de muitos pequenos apicultores, que hoje podem comprar uma casa e um carro. “A apicultura mudou a vida de muitas famílias”, enfatizou. Ele produz oito toneladas de mel por ano, o que é muito para um agricultor familiar.

Farias conta que trabalhava com o pai desde os 9 anos de idade cuidando de abelhas na região de Brotas de Macaúbas, onde todo mundo era apicultor amador: colhiam o mel, beneficiavam de forma rústica, mas não comercializavam. Até que foi fundada a Associação dos Apicultores do Vale do Riacho Grande, da qual ele é o tesoureiro, e três anos depois, nasceu a cooperativa, cuja sede fica em Ibotirama, com a finalidade de escoar o produto para a venda. São 200 cooperados, com atendimento a 450 famílias em capacitações sobre inovação e maquinário.

“No início, produzíamos 60 toneladas de mel fracionado por ano. Hoje, a cooperativa produz 700 toneladas por ano, sendo que 90% é exportado para a América do Norte e 10% é envasado no entreposto de Ibotirama para comercialização no estado”, contou. Farias afirma que o brasileiro tem o costume de ver o mel como remédio, e não como um alimento 100% natural e muito nutritivo.

O apicultor explica que as abelhas com que eles trabalham na região são a apis africanizada, com ferrão, e a melipônia, que é sem ferrão e pode ser criada dentro de casa. ”Depois que você faz a captura das abelhas na natureza, uma única colmeia pode chegar a ter 80 mil abelhas operárias. Daí é só ir dividindo o enxame para ir multiplicando”, ensina.

No Médio São Francisco, entre 16 municípios, dez produzem mel a partir das árvores nativas da caatinga, como juazeiro, angico de bezerro, unha de gato, marmeleiro e aroeira - espécies que só existem no sertão e conferem ao produto um sabor diferenciado. “Já ganhamos duas competições de mel na categoria qualidade. Temos o melhor mel da Bahia, que é o Velho Chico”, comemorou, acrescentando que os cursos de boas práticas do Sebrae e diversas outras capacitações com especialistas de todo o país trouxeram muito conhecimento para os apicultores. O Serviço Nacional de Assistência Rural (Senar) tem formado turmas com assistência técnica e quer atrair mais pessoas para o setor melífero.

O mel da cooperativa passa por análise com frequência e tem o Selo de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura. O que atrapalha, segundo Farias, são os meleiros que vendem sem rótulo nas estradas. “Eles jogam fogo no enxame, matam as abelhas, espremem na mão o mel sem nenhum cuidado, colocam em qualquer recipiente e vendem barato na garrafa pet, podendo contaminar as pessoas. Tinha que haver punição para o atravessador. Nunca comprem mel sem rótulo, verifique sempre a procedência”, alerta.

 

Troféu Abelha de Ouro

No litoral norte baiano, o produtor e gestor de comunicação da Associação dos Jovens Remanescentes Quilombolas da Bahia (Ajarquiba), Elício Neves, realizou a segunda edição de um dos maiores seminários de apicultura e meliponicultura na Bahia, em outubro, em Esplanada - o Bahia Golden Bee, em que ocorreram exposição de produtos, equipamentos e tecnologia, além de capacitações.

O evento foi realizado com o apoio de Sebrae, Senar e Bracell Social, e reuniu 610 apicultores e meliponicultores de 15 municípios baianos e de outros estados, além de diversas associações de apicultores, meliponicultores e agricultura familiar, com o objetivo de fomentar a cadeia produtiva do mel no território, mobilizar e empoderar os produtores. Foi idelizada uma premiação para incentivar a criação de abelhas, diminuir a sua mortandade e estreitar o relacionamento entre apicultores e meliponicultores, segundo Elício Neves. A primeira edição do Troféu Abelha de Ouro da Bahia premiou dez empreendimentos no litoral norte baiano e empresas parceiras.

A associação Ajarquiba realizou também a primeira feira de exposições de produtos derivados das abelhas, como a cerveja de mel Flores da Mata, o biscoito de chocolate amargo com mel e outros 23 produtos derivados do mel e do pólen. A qualidade do produto é propícia à fabricação de cerveja e de outras bebidas, com tons cítricos, produzido a partir do néctar das flores do bioma Mata Atlântica, o que favorece a formação de um blend dentro da colmeia, com dois ou três tipos de mel, sendo o mais claro de todos o de pau-pombo, que se usa para adoçar o café porque não altera o sabor; o de ingá, que deixa uma essência aromatizada no final; e o da rabuge, que é mais escuro e oferece um leve amargor ao paladar.

Mas há mais de 13 espécies de flores no bioma, todas diferentes uma das outras, o que ocasiona o mel de florada silvestre, que pode conter mel do cipó uva, ingá uçu, cipó de fogo, murici, dentre outras. “O mel baiano tem características de sabor e coloração diferenciadas porque a vegetação da caatinga é bastante rica, e tem também a mistura com o mel de eucalipto”, explica a coordenadora de Negócios do Sebrae, Adriana Moura.

Para Neves, a apicultura e a meliponicultura são atividades ainda pouco exploradas e com muito potencial de crescimento, principalmente na região de Mata Atlântica,  que tem vegetação e água em abundância, com o clima propício a muitas floradas o ano inteiro. Ao contrário da caatinga, que só produz mel quando chove, o que faz com que os apicultores tenham que buscar alimento para as abelhas não morreram durante a seca, que predomina por oito meses do ano. “A apicultura dá espaço para todo mundo trabalhar e transformar o mel em produtos, agregando valor à cadeia produtiva”, disse ele, acrescentando que a produção atual da cooperativa é de 1.200 quilos por ano de abelhas nativas, que têm um manejo integrado humanizado.

O produtor de mel e fabricante de caixas de abelhas Lamarque Almeida, diretor da Associação de Desenvolvimento da Apicultura e Meliponicultura de Seabra (Adamel), com 60 produtores, está no ramo há 18 anos e disse que o investimento para se iniciar na atividade é barato, com florações imensas na Chapada Diamantina. Segundo ele, é a saída para muitos agricultores que acabam se apaixonando pelas abelhas e vivendo melhor. O seu pai, Rosival de Melo, de 71 anos, passou a vida criando gado e plantando café  e agora virou apicultor, dizendo que é uma atividade muito melhor de se trabalhar em todos os sentidos. As floradas silvestres originam mel da candeia, tingui, pau pombo, cipó uva, assapeixe, entre outras.

 

Projeto Polinizadores treina associados para promover  inseminação de abelhas rainhas

 

Os 120 associados da Ajarquiba receberam treinamento de inseminação de abelhas rainhas fecundadas através do projeto Polinizadores, que a Bracell desenvolve nas suas florestas de eucalipto. A empresa autoriza a instalação de caixas e o manejo dos apiários em áreas da operação florestal, permitindo o acesso às floradas da vegetação nativa para a produção do mel e produtos derivados do manejo de abelhas.

No ano passado, o projeto contribuiu para a geração de renda total de R$ 1.061.960 para os apicultores parceiros. “Investimos fortemente em formação e assistência técnica voltada aos pequenos produtores que têm se destacado na atividade, contribuindo para dinamizar a atividade apícola no território, com foco no aprimoramento das técnicas e na diversificação da produção na região”, declarou Milena Oliveira, especialista em responsabilidade social da Bracell Bahia. 

A empresa ganhou, neste mês, o prêmio Sustentabilidade da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) com o projeto de apoio à criação de abelhas e empoderamento de negócios quilombolas.

A Suzano cede o pasto apícola em suas áreas de reserva legal e eucalipto para nove associações em quatro municípios, atendendo mais de 250 apicultores, com cinco mil caixas de abelha espalhadas pelas áreas, contribuindo assim para promover o fortalecimento da cadeia apícola nas regiões de atuação da empresa.

A Veracel também apoia, há 18 anos, a cadeia produtiva do mel em seu território de atuação por meio de parcerias com associações de apicultores locais. Em 2022, 131 famílias foram beneficiadas, e 31 mil quilos de mel foram produzidos na região. 

A empresa doa materiais, insumos, tecnologia e vestimentas adequadas, além de oferecer diversas capacitações técnicas dos apicultores, que implantam as suas caixas apícolas em suas florestas plantadas de eucalipto. Eles também receberam uma área e apoio para a construção do seu entreposto de mel, inaugurado em 2021.

De acordo com a Associação Brasileira de Florestas (Abaf), o setor florestal investe mais de R$ 26 milhões por ano em projetos socioambientais, como a apicultura e o empreendedorismo, beneficiando mais de 600 mil pessoas em 211 municípios, e 28 associações que detém mais de dez mil colmeias espalhadas em 22 cidades. Esses apicultores apoiados produzem, em média, 300 mil quilos de mel por ano, o que gera uma renda anual em torno de R$ 2 milhões.








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